domingo, 19 de outubro de 2014

A Garota com Olhos de Aurora Boreal



    Novamente eu estava a beira daquele abismo, mas diferente de todas as vezes o clima havia mudado, não estava mais aquela neve escura com um vento gélido, agora era como como se outono tivesse passado por ali, pois, a neve sumira dando lugar à um campo de flores mortas com uma garoa fresca que fazia tudo grudar em mim. Eu já estava preparado para o que viria a seguir, já havia visto aquela cena muitas vezes...

    Mas dessa vez fico paralisado, o ar muda e não consigo acreditar no que vejo: uma garota andando lentamente até onde eu estava. Não era para ela estar ali, isso nunca ocorrera antes. Ela era simplesmente linda e exótica e tinha  asas em suas costas, asas com penas negras que  quando refletiam a luz ficavam com tons violetas e azuis, seu cabelo ondulado era um castanho escuro que a deixava ainda mais deslumbrante, usava um vestido preto fazia com que sua pele branca ficasse quase perolada. Seus olhos intensos que me observavam a cada passo eram azuis de um tom que eu ja mais havia visto, como se eu estivesse olhando a aurora boreal dentro deles.

    No mesmo instante em que ela se aproximava, calma e serena sem se importar com aquela garoa, foi interrompida por uma lança prateada que foi cravada ao chão a sua frente, por mais que eu quisesse me mexer, sair ou correr eu não podia, minhas pernas não me obedeciam. A garota olhou assustada em minha direção com suas asas prontas para tirarem ela dali, no mesmo momento em que a sombra de alguém avançava em sua direção tudo ia ficando preto ao meu redor, eu só consegui olha-la uma ultima vez antes que tudo apagasse.

    Acordei encharcado, o que era meio irônico já que eu havia sonhado com chuva mas aquilo era novidade para mim, todos aqueles meses tendo o mesmo sonho sempre parado diante daquele abismo esperando a morte me levar, e agora aquela garota aparece, ela era simplesmente a garota mais linda que eu já vira. Fiquei o resto da noite pensando nela e repassando aquele sonho várias vezes em minha cabeça.

                                                   ...

— Ethan acorda, a Celine está te esperando meu filho. - grita a minha mãe da cozinha como se Celina estivesse quebrando a casa, algo que eu não duvido.

— Já vou mãe!

   Minha mãe sempre me chamava mesmo eu estando acordo, já era costume naquela casa , ela é uma senhora de 40 anos muito querida e seu nome é Ester, eu não podia desejar mãe melhor. Por ela ser uma mulher incrível e inteligente sempre fui fascinado por leitura, ela vivia me trazendo livros para ler quando eu era mais novo, ainda trás mas agora meus  gostos são outros. Como meu pai morreu quando eu tinha três anos ela fazia papel até de avô se precisasse, e quando digo isso quero dizer que literalmente a minha boa senhorinha se vestia de homem para assistir minhas peças do colégio, o que meio constrangedor.

    Eu ainda estava me recuperando do sonho então tive que me vestir às pressas, já que minha namorada havia chegado. Celine era uma garota difícil, eu gostava dela mas não acho que era algo que pudesse durar, ela era uma pessoa  legal e seguida por muita gente mas as vezes era fanática demais por sua religião, não que isso seja ruim, mas chegava a dar medo.

   Tentei me arrumar o mais rápido possível, mas não consegui, eu tinha que desenhar aquela garota do sonho, tentei passar cada detalhe para o papel, mas ficou parecendo uma imitação mal feita de alguma atriz de Hollywood o que me deixou ainda mais desanimado para sair do quarto. Minhas férias de verão eram curtas e agora recomeçava a minha tediosa rotina: acordar, ir para o colégio com Celine e depois voltar para casa, era uma vida parada, mas não se podia exigir muito quando se morava em Southland.

   Descendo as escadas tento absorver todas as palavras de minha querida mãe, mas como eu estava com pressa só entendi que iria voltar tarde. Hoje estava um dia agradável e Celina estava parada em frente ao meu portão com um vestido que a deixa bonitinha e talvez até um pouco sexy. Ela veio correndo em minha direção como sempre com um sorriso estampado no rosto.

— Oi Ethan, dormiu bem? Ah tenho muitas novidades para te contar, se você quiser ouvir é claro. - ela falava como se fosse se importar se eu ouvisse ou não, mas eu sei que ela não se importava.

—Primeiramente bom dia Cel e bom  já que começou pode contar.

    Ela começou a falar da viajem de sua família, das roupas que comprou e queria que eu visse e ficou me criticando por não ter ligado para ela nenhuma vez durante o verão, as vezes eu me via perguntava se era algum tipo de castigo ter que ouvir ela falar tanto, nem parecia que ela respirava.

    Como sempre eu só concordava com o que ela dizia, acenava e sorria quando necessário, apesar de eu gostar dela, as vezes me pergunto se a magoaria se eu a deixasse, e sempre que eu fazia essa pergunta me vinha uma resposta rápida a minha mente de ela destruindo minha casa e correndo atrás de mim com todo sua família gritando que eu estava possuído por algum espírito maligno que gosta de brincar com garotas indefesas, então deixei essa ideia de lado.

    O caminho até a escola era curto, Southland era uma cidade quieta e tediosa mas se tem uma coisa que eu gostava era das árvores que tinham em todas as ruas deixando aquele lugar mais alegre. Cel ainda continuava a tagarelar ao meu lado, minha sorte era que iríamos encontrar meu amigo Robb, não eram nenhuma novidade que ele era louco por ela, então acho que isso aliviaria meu lado. Andamos mais alguns metros e nos encontramos com ele e sua irmã Aria.

— E ai Ethan, espero que ainda se lembre da gente depois de se isolar o verão inteiro. - disse Robb me dando um daqueles abraços de urso esmagador.

    Depois de me soltar Aria veio e me deu um leve abraço.

— Bom te ver Ethan.

    Eu os conheço desde criança, sempre fizemos tudo junto, e ele sempre foi popular entre as garotas e bom com esportes, ele era uma garoto magro alto de olhos escuros e um cabelo preto muito "revoltado", acho que ele nunca usou uma escova, mas para as garotas ele ainda era encantador. Aria já era mais reservada e diferente totalmente o oposto de Robb, sempre sendo criticada por Celine e suas seguidoras por seu estilo, ela era um pouco mais baixa que eu com cerca de 1,60 de altura, tinha cabelos longos e ondulados pintados inteiramente de rosa claro, e tinha olhos verdes claros como o pai. Ela era desejada por muitos garotos mas não dava bola para eles, ficava sempre pintando telas ou enfiada na biblioteca lendo livros sobre arte.

   Para minha sorte Celine ficou entretida falando com Robb enquanto andávamos e olhando para mim a cada 5 minutos para ver se eu estava com ciúmes, acho que isso só a deixava mais irritada. Aria como sempre ia calada com a gente lendo um livro de bolso sobre o Romantismo. Enquanto andava fiquei observando o céu e pensando no sonho e se algum dia eu saberia o porque de ter ele, eu não havia contado para ninguém sobre isso nos últimos meses se não me chamariam de louco ou me mandariam para um psicólogo.

   Chegando em frente a escola, somos sufocados pela quantidade de garotas que vem receber sua "deusa" Celine e paparicar Robb. Aproveitando a deixa eu saio dali me livrando finalmente do olhar furioso de Celine e tento procurar o painel que mostra em que sala ficamos, já que todo semestre eles trocam os alunos. Me sinto um pouco mal como se algo estivesse apertando meu peito quando chego no painel. Procurando por meu nome acabo vendo nome de outra pessoa que não sei porque me soa familiar, Stella Klein. Depois de olhar mais algumas vezes distraído acabo encontrando meu nome, que por coincidência está na mesma sala dessa garota.

   Andando feito um zumbi pelos corredores por causa da noite maldormida, sou atacado por Robb que vem pra cima de mim com um entusiasmo que parecia que havia ganho na loteria.

— E ai cara você já viu a garota nova?

— Não, nem sabia que podia se matricular no meio do semestre.

— Não pode a não ser que não se tenha escolha, e essa garota caiu do céu meu amigo.

   Não dei muita bola para o que ele falava, parecia um cachorro contando que comeu o que sobrou do churrasco dos donos. Chegando até a sala com Robb logo atrás de mim me dou conta que já havia tocado o sinal, nossa professora já estava na sala, para meu azar, não tinha mais lugares nos fundos da sala para que eu pudesse me esconder e dormir.

— Entrem por favor, e espero que atrasos não sejam frequentes.

   A professora era uma mulher não muito velha tinha os cabelos claros, mas devia ser algum tipo de pintura,  no seu crachá estava escrito Srta. Honey, e pelo modo como ela olhava para mim e para Robb parados na porta, creio que ela estava com a mesma vontade que eu de estar ali: nenhuma.

— Anda sente-se logo ou vão virar parte do prédio desse colégio.

   Procurando onde ficar, sento-me ao lado de uma garota na segunda mesa, ela não estava com cara de muitas amizades então limitei-me a prestar atenção nas árvores do lado de fora da escola. Tinha começado a ventar e as folhas voavam como pássaros viajando para algum lugar distante. Um bilhete amassado vindo de Robb me desperta do meu transe.

Cara da uma olhada atrás de você
garanto que não vai se arrepender,
mas não babe .

    Um pouco mal-humorado e com sono olho para trás para não ter que ouvir ele me enchendo depois, mas simplesmente esqueço que ele existe depois de virar para olhar. Sentada atrás de mim estava uma garota magra de pele clara, ela tinha os cabelos castanhos escuros, e estava concentrada escrevendo algo em um bloquinho, ela usava uma blusa com algo escrito em uma língua que não conheço e sua letra era linda e suave quase como se ela desenhasse em vez de escrever.

— Algum problema? - perguntou ela zangada ao perceber que eu a estava encarando.

    Tentei disfarçar pensando em mil desculpas que eu poderia usar sem parecer um idiota ou algum tipo de tarado, mas então olhei em seus olhos e minha mente não funcionou mais, fiquei a encarando paralisado, ela tinha os olhos azuis de um tom que eu só vira uma vez e não foi pessoalmente...

— Isso pode parecer estranho mas é que eu acho que sonhei com você.



    Quem é essa garota com olhos tão familiares? O que ela veio fazer em Southland? Vocês vão ver aqui no Ayiori Repórter.
    Brincadeiras a parte, espero que vocês tenham gostado, e espero que estejam curiosos sobre nossa amiga misteriosa, deixem nos comentários sua teorias ou dúvidas, e obrigada novamente por lerem.

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